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Bairros do Rio de Janeiro: Estácio

A Conectando Territórios tem como propósito trazer a memória brasileira, e valorizar pessoas que são o elo de manutenção da vida dos territórios. Nossa série Bairros do Rio de Janeiro, traremos histórias e memórias da nossa cidade e de pessoas que foram fundamentais para a história, cultura, construção e formação carioca.

Estácio, Holy Estácio

“Se alguém quer matar-me de amor / Que me mate no Estácio /Bem no compasso, bem junto ao passo / Do passista da escola de samba / Do Largo do Estácio / O Estácio acalma o sentido dos erros que faço…”

https://youtu.be/pLOVhGFiZIE

Com os lindos versos de Luiz Melodia iniciamos o texto que vai falar um pouquinho sobre a história do bairro do Estácio. Morada de grandes nomes da cultura (Luiz Melodia, Gonzaquinha, Ismael Silva, Moreira da Silva (Kid Moringueira), Angela Maria, Dominguinhos do Estácio, Joaquim Antônio da Silva Callado, entre outros) foi local de grande importância para a história do samba e consequentemente para a cultura brasileira.

O bairro do Estácio situa-se na região central da cidade do Rio de Janeiro, limitando-se com os bairros Cidade Nova, Tijuca, Praça da Bandeira, até a oficialização da delimitação geográfica dos bairros do município, ocorrida em 1985, historicamente sempre houve confusão popular entre os limites de Estácio e Cidade Nova. Por vezes, as áreas do Teleporto, da antiga Vila Mimosa e a área onde atualmente está o Sambódromo são referidas como parte do Estácio. A região do entorno Estácio/Cidade Nova abrigou, até o final do século XX, a chamada zona do meretrício da cidade.

Os primeiros moradores da região que daria origem ao bairro ocupavam as encostas do morro, devido as suas condições geográficas que faziam da região uma enorme área alagada no entorno da lagoa de Capuerussu¹.

Seus moradores viviam da caça, pesca, de pequena atividade agrícola, criação de varas de porcos soltos pela mata, para serem mortos e vendidos na cidade. Por esse motivo a região passou a ser conhecida como Mata-Porcos.

Na região, por volta de 1760 foram plantadas as primeiras sementes de café no Rio de Janeiro. Colhidas principalmente desses cafeeiros de Mata-Porcos, as sementes de café foram espalhadas pelo Rio de Janeiro, seguiram para o Vale do Paraíba, São Paulo, Minas Gerais e, por fim, para todo o Brasil.

Em 1808, com a chegada de Dom João VI o bairro começou a ser aterrado para servir de passagem entre a Quinta da Boa Vista, residência da família real, e o Paço Imperial, onde a corte despachava. Com o aumento populacional a vocação musical do bairro começou a aflorar. Joaquim Antônio da Silva Callado, considerado o pai do choro, foi criado no bairro e atraiu na segunda metade do século XIX uma legião de seguidores. Suas ruas também abrigavam capoeiristas e muitos terreiros de candomblé, que viravam ponto de encontro de rodas de samba.

No início do século XX houve no Rio de Janeiro uma série de reformas urbanas, a fim de modernizar a cidade, e transformá-la numa Paris brasileira, e é durante esse período que a região do Estácio ganha uma ocupação sistemática devido ao seu lugar de centralidade na cidade. Bairro inicialmente proletário, na gestão de Pereira Passos foi erguida uma vila operária ao longo da Av. Salvador de Sá, perto de onde se instalou a fábrica da cervejaria Brahma. Com a expulsão dos moradores dos cortiços do Centro, parte dessa população se mudou para o bairro do Estácio. Nesse período o morro do São Carlos recebeu seus primeiros moradores, e a rua Maia Lacerda atraia malandros de diversos pontos da cidade.

Pela sua proximidade com o centro, o bairro recebeu gente de tudo que é canto, no bairro era possível encontrar uma presença forte da população negra, imigrantes italianos, nordestinos, ciganos e “turcos” ². O bairro tem na sua formação uma característica muito peculiar de mistura, das pessoas que transitavam entre o centro, a zona portuária e a zona norte, cumprindo no começo do século passado a função de encruzilhada³ do Rio de Janeiro.

E usufruindo da característica mais marcante da sua posição de encruzilhada, a de local de entroncamento, das trocas e das possibilidades, o bairro vê ser criado a parte mais marcante de sua história. Pela sua posição, o Estácio se encontrava no centro dos acontecimentos da cidade, A Escola Normal, que na época se encontrava no bairro, formava professores e era estimulo para a disseminação de novas ideias progressistas.

Nas ruas do bairro, se misturavam pessoas de todo tipo, abrigava terreiros das Mães de Santo baianas, os capoeiristas e as rodas de samba (começavam com samba, com as pastoras ao centro dançando, que varavam a madrugada e terminavam com desafio de batuqueiros, vestidos de terno branco de linho, em meio ao coro e a ginga – um batuqueiro tentava derrubar o outro postado ao centro com uma pernada), e que em pouco tempo passaram a influenciar a cultura e a música popular brasileira.

E dentro desse cenário, entre os anos 1920 e 1930, que nasce o samba urbano carioca, ou samba de sambar como preferem alguns autores. Os responsáveis pela remodelagem do samba ficaram conhecidos como a “Turma do Estácio”4 e foram responsáveis pela criação da primeira escola de samba, a “Deixa Falar”, que incorporou elementos dos blocos existentes a um formato de agremiação mais estruturado e dividido por alas. A proximidade do bloco com a Escola Normal deu origem ao termo escola de samba, sendo usado como referência para que o bloco Deixa Falar, pela proximidade, se autodenominasse Escola de Professores de Samba.

Os sambistas da Turma do Estácio eram jovens na casa dos 20 e poucos anos, a maioria negros e mulatos que desenvolveram um novo paradigma rítmico e novos instrumentais (tamborim, surdo e cuíca) para o samba adaptando-o ao desfile das nascentes escolas de samba. Isso porque o samba da época era típico das rodas, do partido-alto. Tocava-se, cantava-se e sambava-se sem grandes deslocamentos. Sua cadência era própria para as festas, para a dança, assim como a cadência do maxixe e a do lundu. Essas transformações conferiram ao samba muitas das características que se mantém até os dias de hoje.

 

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