Menu
DSC_0250

Conectando Territórios: Aproximação da história brasileira a partir da experiência turística comunitária em comunidades quilombolas

Porque conhecer uma comunidade quilombola?

Desde criança me incomodava ouvir na escola a história do negro brasileiro associado a escravidão, feijoada e samba. Sempre me questionei em relação aos saberes, fazeres e influências na construção de base da sociedade brasileira, pois nossas relações estão diretamente associadas a influência indígena e africana. No século XIX por exemplo a cidade do Rio de Janeiro tinha a população com muito mais africanos do que europeus por exemplo.

Porém a história do negro e do índio no Brasil foi escrita por mãos brancas, como disse Beatriz Nascimento em suas pesquisas na década de 80.  E essa história é contada de uma forma em que condiciona uma população inteira a um esteriótipo que perdurou por muitas décadas e afetou a autoestima e identidade da maioria da população.

Chimamanda Adichie chama atenção para o perigo da história única quando traz o exemplo de como imaginava a família do menino pobre que trabalhava para ela. Quando foram visitar a aldeia deles, ficou surpresa com os saberes e fazeres que eles tinham, pois, sua imagem estava condicionada ao olhar da história única sobre eles.

A história única sobre os quilombos brasileiros ainda está vinculada ao local de fuga dos escravos do sistema escravista e não de como esses quilombos eram organizados socialmente. Como um território organizado, onde existia uma forma de ser, de conhecimentos e cultura onde cada comunidade tem uma trajetória e história própria.

Meu contato com as comunidades quilombolas aconteceu a primeira vez em 2003, quando conheci durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre um morador da comunidade de Kalunga em Góias.  Eu não sabia ainda que existiam comunidades quilombolas no Brasil. No ano seguinte visitei a comunidade do quilombo de São José em Valença, Rio de Janeiro e a história única que tinha na cabeça sobre quilombos que tinha aprendido na escola não tinha vinculo nenhum com o que tinha vivido ali. Conheci o Jongo, tive contato com a cultura daquela comunidade, dos saberes, do contato com a história, conversando com os mais velhos e pessoas de todas as idades.

Resolvi estudar turismo na graduação pois tinha interesse em aproximar as pessoas da história e da cultura brasileira a partir de territórios de comunidades tradicionais como os quilombolas por exemplo e desmistificar o olhar único sobre elas. Queria que esse outro olhar fosse reconhecido, essa cultura que não era mostrada.

Pesquisei durante a Pós-Graduação e depois no Mestrado em Memória Social na UNIRIO sobre a influência do turismo de base comunitária na comunidade do quilombo do Campinho da Independência em Paraty e percebi que o turismo possibilita a recuperação da memória coletiva e da aproximação da história.

A experiência turística de base comunitária possibilita a quebra de estereótipos e troca dos dois lados, tanto do visitante quanto do visitado. Contribui para a valorização da cultura pelos mais jovens que por exemplo quando veem jovens de centros urbanos aprendendo a fazer o artesanato ensinado por suas mães, despertam o interesse em aprender também sobre sua cultura.

O turismo de base comunitária também contribui para que algumas pessoas se mantenham em seus próprios territórios quando passam a trabalhar com o turismo em sua comunidade. Isso tem um significado para a manutenção do território e da preservação da cultura local.

O Conectando Territórios surge em 2013 dessa necessidade em conectar as pessoas da história brasileira e de reconhecimento e valorização da história desses locais a partir de experiências turísticas onde ouvem a história contada pelo morador local e se aproximam da memória dos diversos territórios. Além dos saberes e fazeres locais saem do estereótipo criado pela história única.

O Turismo de Base comunitária nas comunidades quilombolas possibilita a visibilidade para a luta pelo movimento quilombola no Brasil, aproximando as pessoas da realidade desses territórios. Atualmente o Brasil possui mais de 5 mil comunidades quilombolas reconhecidas, porém poucas comunidades são tituladas. No estado do Rio de Janeiro temos 35 comunidades e apenas 5 são tituladas: Campinho da Independência, Preto Forro, São José, Marambaia e Santana. Na cidade do Rio de Janeiro, existem duas comunidades urbanas: Pedra do Sal e Sacopã, localizado na Lagoa.

Acredito que o turismo tem também o poder de educar e principalmente de aproximação de povos e culturas. A partir da memória e história podemos entender melhor o presente e aproximar as diversas culturas existentes no país.

Atualmente atuamos com experiências turísticas em comunidades do Rio de Janeiro. Se quiserem conhecer mais nosso site é www.conetandoterritorios.com.br.

Thaís Rosa Pinheiro, Fundadora do Conectando Territórios, bibliotecária, turismóloga e Mestre em Memória Social pela UNIRIO.

 

Compartilhe este artigo!


0 Comentários

Post relacionado

  TOPO